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domingo, 25 de setembro de 2011

Nevermind (O meu tributo a Kurt Cobain)

        Um belo dia, depois de um evento que havia ocasionado outra das minhas já inúmeras expulsões de casa, eu estava estendido num canto de sala. Estava absolutamente desolado com uma série de fatores, e tentava entender o que raios havia de errado comigo enquanto um amigo tentava me convencer de que isso que eu sentia passaria cedo ou tarde.
        Acho que ouvi ele falar um milhão de coisas naquela tarde quente do mês de fevereiro, cujo dia, já não sei precisar. Coisas sobre as qualidades que eu tinha, sobre o que eu deveria fazer, enfim, um falatório interminável que, aquela altura, já me fazia rezar para que ele calasse a boca. É que apesar da imensa vontade de me ajudar, acho que ele falhava na tarefa mais simples: Me entender, se pôr no meu lugar; Me ver como o ser deslocado que eu sempre tinha sido, como alguém se punha de fora mais por conveniência do que por inadequação.
        Encostei a cabeça na parede, deixando o corpo relaxar no chão frio, enquanto fingia dar alguma atenção às considerações do meu camarada. Afinal ele nunca poderia tocar todo o caos que era o meu interior daquela forma.
        Foi então que comecei a ouvir uma guitarra que parecia estar rugindo, que parecia realmente mostrar raiva por tudo sem perdoar coisa alguma. Uma batida com uma força eu que não sabia explicar, mas que me dizia para ficar de pé e gritar com alguém, olhar no espelho e gritar de novo.
        “Você está com raiva, eu sei, então grite”, era isso que eu ouvia. A voz melancólica que conduzia a melodia compassada, de uma ora para outra se transformava em um berro rouco e estridente que fazia exatamente o que eu precisava fazer naquele momento: gritar, de dor, de tristeza, de raiva de tudo... Já não importava, eu precisava gritar.
        Eu não tinha ideia do que raios a letra dizia, mas eu não dava a mínima, e gritei, tentando acompanhar a melodia, eu gritei. Senti os pelos do meu corpo ouriçarem; A dor estava diminuindo enquanto a raiva aumentava. Agora eu estava de pé, não queria morrer nem chorar, eu queria era ficar com muita raiva e deixar que ela assumisse o comando no lugar da dor. Gritar era um santo remédio.
        Graças a um vizinho mal educado que tinha por costume ouvir rock em um volume descomunal, tive a sorte de ouvir algo que traduziria tudo o que eu realmente queria dizer em som, e de repente eu só queria saber o que estava ouvindo, para assim, poder ter mais.
        E foi assim, anos depois da morte de Cobain, que pude ouvir ele falar comigo; Que pude constatar que música não precisa dizer uma palavra para falar à nossa alma; Que pude saber de sua história e, mais tarde, do mito que Cobain se tornara.
        O que quer que as nossas histórias tivessem em comum para mim não importava, isso não fazia diferença. Tudo o que sempre fez diferença dali em diante foi o que sua música trazia à tona em mim, bem como tudo o que o Nevermind representou para a música em todo o mundo; O quanto ele foi capaz de ensinar que, independente do que se diga sobre o assunto, a força da boa música sempre estará nos sentimentos que ela ajuda a desencadear e compartilhar.

        O resumo disso tudo, é que a sensação daquele dia nunca passou e o Nirvana também não.

        Agora quando o meu amigo está triste ouvimos música juntos e, depois de horas gritando exaustivamente as letras, rimos e dizemos um ao outro: “Nevermind dude, nevermind”.




        P.S.: Obrigado,Kurt Cobain, por me ensinar tanto sobre música e sobre mim mesmo. Este é o meu tributo não só ao Nevermind, mas ao incorrigível homem triste que o tornou possível.

7 comentários:

  1. Show, perfeito, lhe admiro muito . Amei (=

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  2. Imaginei a casa do de Assis na narrativa. Impressionante como este aniversario deixou a nos todos nostalgicos e saudosos de outros tempos.

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  3. E foi exatamente a este lugar que a narrativa se referiu...
    Impressionante...mesmo!
    Não pensei que alguém além de mim pudesse dar conta deste detalhe.

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  4. Melhor queimar do que se acender aos poucos...sempre Kurt!

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