O tempo frio me deixa com vontade de escrever cartas, sem razão exata, só escrever cartas. Cartas tristes, apaixonadas, cartas novas com velhas coisas sobre mim e sobre o mundo como eu vejo.
Eu sempre escrevi sabe, mesmo quando não sabia o que era exatamente que escrevia, mesmo quando era em papel de pão ou capa velha de disco, e sempre de alguma forma me senti destinado a dar a mim mesmo alguma chace de dizer o que ninguém parece querer ouvir, mesmo quando as cartas já não tinham destinatário, mesmo quando o amor faltava nas linhas e mesmo quando parecia uma imensa perda de tempo como me parece neste dia dezessete de julho no qual, a cada repetição da data, sempre escrevo algo mais e mais sem graça.
A verdade é que, com o passar do tempo, vão-se as ilusões da infância e o abandono que se sente quando elas vão embora segue despontando na alma junto com as mnemônicas recordações de qualquer coisa.
Que chato!Sempre uma coisa leva a outra não? Com o tempo, quando se vive como eu vivi e sigo vivendo, vai-se quase tudo. vão-se as coisas, os gostos, os cheiros, e você começa a sentir que tudo está ficando assustadoramente menor que tudo e maior que nada...e acaba que, sem que você perceba, as cartas já não têm destinatários, você já não quer falar de si mesmo e tudo o que realmente deixou alguma marca está do lado de dentro, e você acaba por pensar que quer esquecer tudo tudo para não ter que acordar com você mesmo no dia seguinte, sozinho de novo; triste de novo.
Que chato!Sempre uma coisa leva a outra não? Com o tempo, quando se vive como eu vivi e sigo vivendo, vai-se quase tudo. vão-se as coisas, os gostos, os cheiros, e você começa a sentir que tudo está ficando assustadoramente menor que tudo e maior que nada...e acaba que, sem que você perceba, as cartas já não têm destinatários, você já não quer falar de si mesmo e tudo o que realmente deixou alguma marca está do lado de dentro, e você acaba por pensar que quer esquecer tudo tudo para não ter que acordar com você mesmo no dia seguinte, sozinho de novo; triste de novo.
As cartas são as mesmas? Não sei, mudei muito com o passar dos anos, cada vez sou menos eu. Alguns poetas dizem que estamos sempre escrevendo o mesmo poema de uma outra forma. Pois é...
Devo seguir esse mesmo princípio.
As pessoas são as mesmas? Olhando daqui até parece, mas de fato não sei, estou da porta para fora e só elas e suas atitudes me dirão o quão certo ou errado eu posso estar sobre tudo o que posso realmente ter delas.
A vida é a mesma? É o único ponto onde posso afirmar com certeza que sim. O mundo é o mesmo e ele transpira ganância e maldade; os homens em sua maioria são frios e corruptos -salvo um ou outro anjo que de tempos em tempos desponta no meu horizonte.- E eu não sou tão diferente deles quanto gostaria.
Eu queria tanto ser santo sabe, os santos são tão bons e tão excelsos que nunca precisarão escrever cartas explicando a sua humanidade a si próprios; eles não precisam cobrar o preço de ter consciência, de fazer absoluta e repudiável ideia sobre as coisas, eu preciso e eu cobro como ninguém se atreve a pensar possível e sinto como ninguém nunca saberá realmente. Mas a minha santidade está perdida entre os meus suspiros e os soluços que ouvi uma vez em alguma noite fria deste mesmo mês.
Mas pensando bem deve mesmo ser sim a mesma carta, outro fragmento de fragmento, outro pedaço do meu despedaçado peito, preso em algum século passado por apoiar alguma revolta camponesa, e eu escrevo para ver ressoar no vento de outras ideias todo esse nada que eu sinto, o vazio, a ausência, o eco do meu grito que ninguém parece mesmo ouvir. A carta é infinita se puder seguir com o vento e eu conto ao vento as minhas mágoas para não incomodar ninguém e faço do papel meu confidente porque alguém precisa saber algum dia.
O tempo frio antes não dava sono nem náusea, hoje eu tenho muito sono e muito enjoo, e tenho certeza de que preciso dormir para acordar para dentro, dormir para me encontrar de algum jeito, ou esquecer tudo o que sei, ou me perder de vez, ou mesmo não vomitar enquanto olho o espelho e esfrego as mãos sujas sobre a boca mal desenhada; preciso mesmo dormir porque assim nem sofro, nem escrevo, só durmo e dormindo talvez possa ser santo.
A pausa da grande carta, o ingênuo sono.
O retrato de um dia muito difícil repostado aqui.
ResponderExcluirNossa, a cada texto seu que leio sinto mais vontade ainda de ler mais e mais ... queria ser inspirada que nem vc , adoro demais seus textos, parabéns (=
ResponderExcluirTiciana, agradeço demais a sua admiração.Você não imagina o quanto fico feliz de você me ler e gostar do que escrevo. Agora, quanto a dita inspiração, este que vos fala só pode dizer que não deseja essa que possui a ninguém por conta do preço a se pagar. Ele é alto, e quem vive como eu vivi e sigo vivendo não o deseja a ninguém.
ResponderExcluirDe todo modo fico muito feliz de ser lido, obrigado e comente sempre, é um a honra poder agradar você.
Eu lembrei...
ResponderExcluirYosh Lee, meu amigo e irmão, eu seria um tolo em absoluto se não soubesse.
ResponderExcluirObrigado.
Muito bom o texto,parabéns!
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