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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Moderníte aguda

        O meu mundo é moderno, politizado e globalizado. Tem um número sem fim de intelectuais, músicos, médicos e mendigos; Pessoas de todos os tipos, todos os tipos de ideia. Entre as ruas, guetos e favelas. Em cada espaço ocupado existe uma novidade anunciada: “Pague-me atenção, pois preciso que me vejas".
        O meu mundo, de gente preocupada, que trabalha e paga conta, que vive uma vida massiva em busca de encaixe e entrega em vários níveis. Tão cheio de linguagens e cifras; tão abarrotado de opiniões e objetivos; tão aterrorizante de minuto em minuto; tão sinfônico, metódico, harmônico, afônico...
        Existe um recado em cada rosto, está lá tudo muito bem escrito na transparência dos sorrisos desdentados e das pessoas que riem de tudo; Nos gestos, nos olhares, e nas palavras caladas por um vocabulário carente. 
        Existe qualquer coisa muito certa, tão certa que mantém todos suficientemente longe mesmo a dois passos de distância. Olhem comigo se a vida não é perfeita?Temos um sistema não temos? Nós estamos encaixados, somos felizes humanos, fazemos parte de alguma coisa.
         E o importante é estar encaixado, não importa onde, encaixe-se e você salvará sua alma e seu estômago da fome; Você será parte do grande mundo moderno, politizado e globalizado. Tão belo mundo cheio de pessoas que nunca saberão quem você realmente é.
         Ninguém precisará nunca saber que sofres. Estarás incluído, pagarás teus tributos, serás homem de bem e poderás dizer a todos de teu sucesso como trabalhador e amante de uma ou de muitas. Falarás como te mandarem; farás o que te disserem que é correto; terás rótulos e insígnias e poderás cantar canções tristes quando estiveres sozinho e ninguém estiver vendo.

        Aos poucos aprenderás a lidar com a culpa e tua sanidade estará salva.

        Estamos livres para ignorar uns aos outros, a nos reter dentro de nós mesmos dizendo que há culpa maior em outra parte de sermos tão insensíveis a tudo o que nos ocorre tão obviamente. Isso apenas denuncia a nossa carência. Nós sabemos lidar com o esquecimento e o descaso melhor que ninguém. Formamos famílias sem diálogo e montes e montes de gente que odeia o que faz. Não podemos nos dar ao luxo de reparar  no quanto as coisas saíram do controle e o quanto nós estamos perdidos de tudo o que realmente tornou a vida relevante no decorrer dos séculos.
        O meu mundo moderno politizado, globalizado, é carente e cego, e estamos passando e passando sem reparar que somos responsáveis uns pelos outros... O que adorna e consola não me serve, e eu escrevo o que escrevo apenas porque não sei mais rezar.

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