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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Falso paradoxo

      Eu nunca te escrevi uma carta, nunca te mandei flores. Eu não pude aceitar a responsabilidade de sentir-me amado; De sentir que me querias e que ofertavas nada mais que amor mostrado em sua forma mais bruta e mais límpida.
         Eu não pude voltar à tua casa, nem pude bater na tua porta; Eu não estava enquanto choravas por qualquer razão que desconheço,  nem pude sentir o teu cheiro e o cheiro do teu cabelo molhado que me fazia pensar em crianças felizes correndo pela casa. 
         Eu não parei para ver como estavas,  nem tive a coragem –para que não se diga decência- de passar apenas para perguntar do teu dia como fiz por tanto tempo.
        Eu não pude parar para cumprimentar-te na rua mesmo vendo que os teus olhos me fitavam,  não pude dizer-te o quanto estavas linda usando um vestido branco, como de fato, sempre ficavas. Nem mesmo falar o quão perfeitos estavam os cachos do teu cabelo (prendo a respiração e aperto o passo).
        Nunca saberás o esforço que faço para não olhar para traz, ou mesmo para não gritar alto o teu nome quando nos cruzamos por essas ruas já cansadas do meu e do teu cansaço.
       Eu não pude dar-te meus motivos, nem esperar que entendesses minhas causas primeiras.
       No fim das contas, a verdade é que não pude deixar de olhar para a tua janela quando na tua rua, nem pude esquecer-me de ti me envolvendo nos teus braços. Não pude esquecer-me dos teus olhos quando me olhavam pedindo-me nada mais que a minha atenção. Não pude depois de tudo tomar sorvete de flocos como se fosse só isso ( e você tinha que adorar flocos...). Nunca mais olhei uma estrela cadente sem dizer o teu nome três vezes e, mesmo te tendo deixado em nome da tua felicidade, nunca pude deixar de escrever-te sem que saibas nem de amar-te sem que sintas.

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