Compartilhe!

domingo, 9 de outubro de 2011

Aos versos mal-dedicados


       Tem dias em que eu quero escrever versos, coisas bonitinhas e metrificadas, coisas bem definidas, diretamente direcionadas a alguém que chame a minha atenção de algum modo. sabe, eu adoro versos e adoro sentir o quanto eles podem ser um canal pelo qual os meus sentimentos passam.
        Mas hoje não, hoje amanheci com com vergonha de alguns versos que já escrevi – é que eles eram tão lindos, tão cheios de bondade e amor...- Pobres versos, sempre vítimas da má avaliação do criador os pobrezinhos. Eles já foram tantas vezes estuprados e vulgarizados que hoje eu prometi que não escreveria verso nenhum.
        Hoje estou de luto por cada pequeno verso que escrevi e não valeu a pena; Cada palavrinha mal amada, cada versinho dito cheio de amor que ficou abandonado em um banco de praça; Cada poema mal nomeado em nome de algum amor passageiro, cada folhinha de papel que compôs o corpo e a cada gota de tinta que lhe foi como sangue; Sabe, eu não quero esquecer deles, eu quero é que eles saibam que eu sinto muito. Essas desculpas não deviam ser minhas, deviam ser de cada causa de poema que não lhe fez jus, a cada um deles que foi amassado, jogado fora ou mesmo deletado como é tão comum nesses dias de letrinhas virtuais sem sentimentos; Cada pessoa em cada pequena coisinha ignorada sobre tudo que estava além das linhas.

        Desculpem versinhos, desculpem por isso que também me dói.

        Hoje eu não vou escrever poema nenhum. Hoje eu vou levantar da cama, olhar a vida e guardar os versos para outro dia. E se de repente eu teimar em fazer versos sobre o sol ou sobre uma gota d'água, não direi nada a ninguém; Eles terão a data de amanhã que é sempre o dia mais bonito da vida de quem tem esperança. E depois nunca vi o sol ou uma gota d'água desprezarem um poema ou lhe tirarem o sentido. Quem sabe versejar os cães, ou as latas de lixo, ou minha gatinha cinza que sempre me acompanha nas frequentes noites de insônia, mas não mais quem destrói o sentido da pureza que eu ponho nas linhas do que escrevo, pelo menos não hoje.
        E amanhã, quando eu voltar a ter vontade de escrever para alguém, vou me perguntar se realmente devo, e fazer antes de colocar os versos no papel, uma oração e um pedido de desculpas por não poder evitar a perda de outro versinho puro, corrompido pelo tolo amor do criador, e tão triste por não encontrar fora de si mesmo algo que pelo menos se pareça com amor.

2 comentários: