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terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Gollum, a pá e o riso dos loucos


  Hoje, 30 de agosto de 2011, fui acordado por um estranho evento que me deixou um tanto sem assunto pelo resto do dia.
  Imagine você estar dormindo tranquilamente às 6:30 da manhã, depois de ter ido para a cama às 3:00 da madrugada e ser acordado pelo o som estridente do metal chocando-se renitentemente contra o solo. Agora, imagine levantar, ir até a porta e assistir o movimento de uma pá lançando areia para cima no terreno adjacente ao terreno no qual a sua casa se encontra.
  Até aí tudo normal, se não pelo fato de você olhar e se deparar com uma figura idêntica ao Gollum de J.R.R Tolkien, usando uma bermuda e rindo de maneira insana enquanto cava um buraco.
  A criatura me observa e, depois de pensar um pouco, fala alto: “Darei a você cinco reais se me ajudar a cavar.”
  Depois da frase uma gargalhada alta e frenética irrompeu, que devia ter por objetivo informar-me do óbvio de que aquilo era uma piada.
  Não me furtei a responder e o vivente continuou cavando incessantemente. Porém não pude deixar de reparar na forma como o homem ria, alto, como quem realmente perdesse o juízo a cada cinco minutos.
  Sentei-me à porta e fiquei observando aquilo que parecia ser o a própria representação da felicidade em um riso contínuo.
  Observei por mais um tempo tentando captar outras nuances de algo que não entendia bem.
  O riso dos loucos, era isso, a mais pura loucura. Um desespero aparentemente inconsciente mostrou-se para mim naquela risada, mesmo com o homem que a perpetrava querendo parecer absolutamente satisfeito.
  Era dor pura, em estado bruto, mas nem o próprio ser parecia saber disso.E eu contemplei um homem numa prisão sem grades, um homem de quem eu não sabia nada e que ria alto como se risse para espantar algo.
  Eu não pude deixar de pensar no que ele realmente queria ser, em como ele via a própria realidade, a vida, as pessoas que ele amava ou o porque de eu sentir tanto desespero vindo dele; não pude entender o motivo pelo qual ele seguia cavando aquele buraco enquanto ria o riso das hienas; eu não pude deixar pensar em quantas outras pessoas no mundo cantam, dançam, ou mesmo fecham os olhos quando estão desesperadas fazendo todo o possível para dissociar a dor da própria consciência.
  E lá estava eu, ouvindo o mesmo riso com um enorme embrulho no estômago, enquanto pensava no porque de as pessoas não conseguirem enxergar o que há de errado com elas próprias.
  Olhei atenciosamente para o homem que cavava, esquadrinhei cada movimento, fiz uma síntese mental de toda a dor que eu podia sentir no seu riso, e ri: um riso louco e desesperado, um riso de quem perdeu completamente o juízo, eu ri, como se tentasse espantar alguma coisa; ri até as lágrimas descerem dos olhos, um riso de criança triste, sem teto e sem esperança, eu ri.

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