Compartilhe!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O poeta e a princesa evanescente de lugar nenhum

        Quanta teimosia, quanta displicência de minha parte te mimar assim com tanto afeto, tanto poder sobre mim; tanto de coisas que normalmente não se entrega. É que, muitas vezes, não sei se existes ou se finges existir estando comigo. Te vejo longe, intocável; desafiando e assustando os corações à tua volta; tudo acidentalmente, sem cálculo ou senso do chão que pisas, tão pouco do barulho feito pelas vontades sobre as quais os teus pés recaem; tudo tolo demais, ingênuo demais, doloroso demais para quem ousa assistir ou viver a cena.
        Azar o meu precisar te olhar de perto, dizer coisas que ninguém ousa, te desafiar a ser maior que isso tudo; vaidade minha esperar que me acates, que entendas, que enxergues o quanto quero para ti algo além dos quilômetros de distância escondidos nos teus olhos pequenos e na tua boca de sorriso desajeitado. Azar o meu, azar o meu… sabes, é que de repente já nem sei o que me deu pra querer te falar dessas coisas, de desenfrear-me a falar do calor que faz lá fora e do gelo que eu sinto aqui dentro. Quanta audácia esperar que me esquentes, que me mudes o coração ou que me cales a boca. Pois não, não e não: De nada sabes e a nada te entregas, e eu fico te olhando, fazendo orações sem fé, rituais sem crença aos meus próprios deuses; eu choro, soluço e faço barulho, para depois de tudo isso me mal fadar a perguntar com um aperto no peito e uma cara de desespero: Onde estás? Porque não trocas essas piscadelas de brilho fosco por um real sinal de vida, deixando de ser esse fantasma semi-animado, essa princesa sem castelo e sem porte que parece ter bebido lágrimas até a ascender à ebriedade infinita?

        Princesinha, salte, salte comigo sem medo da queda, pois prometo proteger o seu belo narizinho –só para que possas apontá-lo para qualquer lado- Prometo que te ensino a ver o outro lado da vida, prometo te arrancar dessa moldura e te mostrar os mundos além do mundo; prometo te ensinar sobre amor, e sobre o horror que pode ser descobrir-se embriagado de si mesmo, apaixonado por coisas que sempre estarão do lado de dentro da fronteira dos sonhos. Sem príncipes ou sapos; sem grandes ou pequenas coisas sopradas em alguns ouvidos e cuspidas de boca em boca. Saltes que te prometo o caminho para a fada azul, o caminho para fazer fatos as tuas próprias verdades e, quem sabe, descobrir-se real depois de entender o grande engano em achar que a realidade faz-se, apenas, de dentro para fora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário