Quanta teimosia,
quanta displicência de minha parte te mimar assim com tanto afeto,
tanto poder sobre mim; tanto de coisas que normalmente não se
entrega. É que, muitas vezes, não sei se existes ou se finges
existir estando comigo. Te vejo longe, intocável; desafiando e
assustando os corações à tua volta; tudo acidentalmente, sem
cálculo ou senso do chão que pisas, tão pouco do barulho feito
pelas vontades sobre as quais os teus pés recaem; tudo tolo demais,
ingênuo demais, doloroso demais para quem ousa assistir ou viver a
cena.
Azar o meu precisar
te olhar de perto, dizer coisas que ninguém ousa, te desafiar a ser
maior que isso tudo; vaidade minha esperar que me acates, que
entendas, que enxergues o quanto quero para ti algo além dos
quilômetros de distância escondidos nos teus olhos pequenos e na
tua boca de sorriso desajeitado. Azar o meu, azar o meu… sabes, é
que de repente já nem sei o que me deu pra querer te falar dessas
coisas, de desenfrear-me a falar do calor que faz lá fora e do gelo
que eu sinto aqui dentro. Quanta audácia esperar que me esquentes,
que me mudes o coração ou que me cales a boca. Pois não, não e
não: De nada sabes e a nada te entregas, e eu fico te olhando,
fazendo orações sem fé, rituais sem crença aos meus próprios
deuses; eu choro, soluço e faço barulho, para depois de tudo isso
me mal fadar a perguntar com um aperto no peito e uma cara de
desespero: Onde estás? Porque não trocas essas piscadelas de brilho
fosco por um real sinal de vida, deixando de ser esse fantasma
semi-animado, essa princesa sem castelo e sem porte que parece ter
bebido lágrimas até a ascender à ebriedade infinita?
Princesinha, salte,
salte comigo sem medo da queda, pois prometo proteger o seu belo
narizinho –só para que possas apontá-lo para qualquer lado-
Prometo que te ensino a ver o outro lado da vida, prometo te arrancar
dessa moldura e te mostrar os mundos além do mundo; prometo te
ensinar sobre amor, e sobre o horror que pode ser descobrir-se
embriagado de si mesmo, apaixonado por coisas que sempre estarão do
lado de dentro da fronteira dos sonhos. Sem príncipes ou sapos; sem
grandes ou pequenas coisas sopradas em alguns ouvidos e cuspidas de
boca em boca. Saltes que te prometo o caminho para a fada azul, o
caminho para fazer fatos as tuas próprias verdades e, quem sabe,
descobrir-se real depois de entender o grande engano em achar que a
realidade faz-se, apenas, de dentro para fora.
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