Quero de volta a minha
vontade de dizer, de expressar com força a minha opinião, aquela
gana para falar de mim como quem sabe e não como quem pensa que
esqueceu os detalhes quando são eles que fazem a diferença.
Eu quero o troco. Quero, eu sei, porque já paguei caro demais pelas coisas que não
ganhei.
Dura estrada espinhenta,
Canto rouco em verso e
prosa;
Sigo sempre em marcha
lenta,
Deixo aos espinhos
sangue para a rosa.
Eu vou, eu sou durão. Sou muito teimoso para admitir qualquer lógica que me separe dos
sonhos.
Os sonhos são o que
resta; O mundo é um retrato velho jogado na água e todo dia eu subo
à superfície para respirar.
Quem sabe se um dia eu
não arrasto o mundo comigo e o meu povo respira?
Quem sabe eu não trago
à tona o Brasil de poetas sem teto que passam fome e amam os livros?
Quem sabe eu não possa
mostrar que na irmandade da mendicância há muito mais poesia do que
na fartura de quem se basta?
Eu preciso é dos
miseráveis e dos animais doentes, dessa gente triste e sorridente
que ocorre por todos os cantos da minha realidade...
Sabe o que eu descobri?
Com esses é que tenho irmandade, e para esses eu canto!
Rouco, louco...
Muito ou pouco!
Vou rimar quando me der
na telha e dizer o que preciso que saibam nas elites considerando
toda forma de expressão, porque eu sou outra voz dos desfortunados
e sei que eles precisam não da minha poesia, mas de qualquer poesia
que seja para seguir em frente.
Quem sabe não ajudo a
puxar o quadro velho e faço do mundo um lugar enfestado de loucos
inofensivos e apaixonados, inebriados pela graça e beleza dos clows
shakespearianos?
Quem sabe não ensino a
certos homens que não é preciso ser santo, apenas bom o bastante?
Quem sabe um dia alguém não gritará alto meu nome dizendo-me herói de qualquer
nobre cruzada, não em nome de qualquer deus, mas em nome do fim da
covardia e do esquecimento dos quais há tantas vitimas?
Ah meus amigos, venham
comigo, falem exatamente o querem falar, o que precisa ser dito.
Eu apagarei, vocês
apagarão. Somos cigarros nas mãos do tempo, queimando devagarinho;
morrendo dia após dia, esperando para ser feliz depois, quando a
casa da certeza é o agora.
Eu não vou mudar o
mundo, eu sei disso, mas eu vou morrer tentando e se alguém vier
comigo tudo vai ter valido a pena; Eu não terei sonhado sozinho,
gritado sozinho, enlouquecido de amor pelas coisas, pelos
necessitados e gentis sozinho.
A minha alma vai nos
versos e eu deixo neles o meu legado, prova de que os carentes de
sorriso largo tem alguém que os ama, que os bichinhos famintos e
inocentes tem alguém que pensa neles e, enquanto eu puder, subirei à
superfície para respirar cantando para mim, para eles e para todos
os que sentem como eu a necessidade de um quadro novo e de um mundo
melhor.
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