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terça-feira, 10 de abril de 2012

O triste poema do gênio passional

Sou um cretino, escrevo sobre o mundo,
A vida, galaxias inteiras;
Sobre a fome no nordeste e a violência no centro-oeste;
Falo de cinema, literatura e outras formas de arte;
Sobre modelos socioeconômicos e políticos
E...sou um cretino, talvez o pior deles.
Escrevo sobre bondade e humanidade;
Travo debates sobre Platão com Hedgar;
Falo de jogos, desenhos e coisas da pós-adolescência.
Sabe, eu falo, escrevo, falo...
E o tempo todo o meu peito está apertado,
E eu acho que nunca poderei mesmo pensar nessas coisas
Como deveria
Porque, sempre que quero mesmo pensar,
Me vem a frase de sempre:
“Na verdade a gente nunca mais se vê...”
E me bate um amargo na boca com uma descrença na vida...
Sou um cretino que passa muito tempo com a boca aberta,
Falando no piloto automático,
E estou sempre preocupado com o fato de que,
Embora te veja sempre, já não te veja mais.
E eu quero ser cidadão do mundo,
Mudar o conceito de humanidade,
Dar um jeito na política e pobreza...
Mas sou um cretino que não pode mudar nem mesmo
O peso da tua ausência presente sobre a própria alma.
E eu sigo o molde, me misturo...
Eu estou sempre entre as pessoas.
Sigo achando-as adoravelmente simplórias
E até fico feliz por isso.
Mas sou um cretino, e gente como eu não pode se dar
Ao luxo de ser feliz muito tempo
(Embora possa fingir- para sempre- se preciso for).
Claro que sabes dessa minha cretinice! Por que outro motivo
Me seria tão distante?
No dia em que sentei à tua porta porta para pedir desculpas
acabou que não saíste o “tu” que eu esperava,
E eu segui de lá para cá remoendo,
Como quem come grãos de café com água de boldo.
A verdade é que, passe o tempo que passe,
Para mim tudo foi ontem.
E eu não consigo pensar no mundo quando lembro
Que você caminha nele.
E foi só um beijo, não foi?
-Não, não foi, não e não!-
Outras bocas depois da tua boca;
Outros corpos depois do teu corpo pequeno,
Cheirando a sexo e doce.
Plutão não é mais um planeta sabia?
Mas sim, minha cretinice é notória e eu tenho
O mau hábito de escrever como penso e rezar
Para que soe como falo.
Eu deveria pensar o universo,
Ascender às alturas em quadros e quadros de
Equações sobre a física quântica,
No entanto, sempre que rabisco sobre o assunto, acabo
Esbarrando em qualquer dimensão onde estamos juntos;
Onde não foi só um beijo louco e roubado;
Onde nossos filhos são lindos e inteligentes,
Leem Voltaire e tocam violino.
Ou onde vamos juntos ao cinema, ou a qualquer
Outro lugar felizes, e onde a força das circunstâncias
Não permita que sumas para sempre da minha vista,
ficando apenas em minha memória e em um punhado
De "cartas-poema" inúteis e choronas,
Como tanto me envergonho de ser.
Eu deveria estar mudando a minha vida, mudando o mundo;
Fazendo algo realmente importante...
Mas eu não vou, porque sou cretino.
E não vou principalmente porque,
Quando eu queria mudar o mundo,
Todos os meus planos passavam por você de alguma forma.
Sem você -para sempre e sempre-
Perdi todas as razões para tentar mudar a mim mesmo
E agora só quero dormir o sono redentor dos cretinos
Que nem sabem o que são.