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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre cachinhos, escolhas e minha inadequação...


         Me deixo cair na cama. Estou tão cansado de tanta coisa que dificilmente teria disposição para listar detalhadamente o que me aflige ou falar do sufoco que é dar um sorriso. Eu nunca soube mesmo estar de cara amarrada e isso para quem me conhece não é lá algo muito surpreendente. Entretanto, justamente para não expôr ninguém a um turbilhão de emoções de caráter duvidoso, achei que deveria fazer o máximo possível para me manter um tanto apagado, distante, em certo estado de anestesia.
         Tem música tocando lá fora, música vulgar que fala de como somos engraçados e ligados diretamente ao que o padrão social nos pede. Eu venho fugindo disso faz anos...Eu não quero me encaixar, não quero ser assim rotulável, igualzinho, usando terno e gravata e tendo um cabelo de cidadão respeitável. Antes a bagunça dos meus cachinhos e o caos dos meus pensamentos. Antes a dor de entender exatamente o que não desejo ser e a sobriedade de olhar o mundo como quem observa de uma janela alta.
         Eu tenho observado as pessoas. Sabe, a maioria pensa que a vida é simplesmente um estado de adequação às coisas: “Nasça, cresça, estude, arrume um bom emprego, tenha uma namorada, constitua família, se adeque, faça parte de algo...” entretanto, a maioria das pessoas ignora o fato de que é profunda e irremediavelmente infeliz usando desculpas de terno gravata para não fazer o que suas almas pedem.
         Eu conheço advogados que queriam ser músicos, contadores que queriam ser atores, professores que um dia sonharam em contemplar a existência e hoje, entretanto, estão levando uma vida que as vezes parece não ser sua... Isso me chateia muito. Sabe, e eu nem consigo falar daqueles a quem os muros da ignorância e injustiça privam da liberdade de pelo menos entender o que querem; Nem consigo falar dos analfabetos e miseráveis, eu nem sei mais falar...
         O que eu sei e pretendo deixar claro para quem ler isto é que vivemos uma só vez, e se não pudermos fazer da nossa vida algo de que gostemos, pelo menos em alguns pontos, devemos parar e ver para quê estamos vivendo. A questão é que todos aqui fazem uma escolha. A minha escolha foi a de ser eu independente das circunstâncias, só eu: sem máscaras, sem fingimentos ou arrependimentos, vivendo a minha vida e fazendo força para deixar claro que se a vida é uma só devemos fazer de cada um de nós o instrumento para transformar o próprio ato de viver em uma obra de arte cheia de beleza e alegria (não confundir com nenhum utopismo, já que sabemos o quanto o sofrimento é indissociável do ato de existir).
         Eu aqui deitado na cama com os meus cachinhos sobre os olhos, vou pensando em muitas coisas enquanto escrevo tudo isso. A tarde está quente, meus olhos estão cheios de lágrimas que me embaçam a vista e eu tenho um certo medo de nunca ser entendido, mas fiz minha escolha, serei o que quero enquanto estiver respirando, e o desconforto desses fatos nunca irá me impedir de dizer o que penso ou mostrar quem eu sou. Minha questão, se você leu isso, se entendeu a urgência que se apresenta junto ao ato de existir tendo consciência de si e de tudo que lhe cerca é: E quanto a você?